Poema Aniversário Cecília Meireles

Cecília Benevides de Carvalho Meireles, ou simplesmente Cecília Meireles, nasceu em sete de novembro de mil novecentos e um, no Rio de Janeiro, se tornou professora, jornalista, pintora e poetisa, sendo considerada uma das maiores poetisas do Brasil.

Com apenas três anos Cecília perdeu sua mãe, então foi morar com sua avó materna, que a criou com ajuda de uma babá, que lhe contava diversas histórias. Cursou o ensino fundamental na Escola Municipal Estácio de Sá, em sua conclusão recebeu das mãos de Olavo Bilac uma Medalha de Ouro pelo seu desempenho na escola, “com distinção e louvor”. Ainda muito pequena, com apenas nove anos, já começou a escrever seus primeiros versos, ela também teve interesse pela música, o que levou a fazer aulas de canto, violão e violino. Porém depois, ela decidiu dedicar-se somente a literatura. Em entrevistas, Cecília contou que teve uma infância bem solitária, pois sua avó não a deixava sair de casa, e ela contou também que essa infância solitária lhe rendeu  “a solidão e o silêncio”, que foram pontos positivos para seu futuro.

Em mil novecentos e dezessete se formou na Escola Normal do Distrito Federal, e foi escolhida como oradora da turma. Ela teve aula com grandes personalidades brasileiras, como o historiador Basílio de Magalhães, a escritora infantil Alexina Magalhães Pinto e o poeta Osório Duque-Estrada. O que com certeza a ajudou a ser mais voltada para a literatura. Nessa idade passou a lecionar. Em mil novecentos e vinte e dois casou-se com o artista plástico português Fernando Correia Dias, que havia vindo para o Brasil e radicado-se no Rio de Janeiro. Ele deu a Cecília a possibilidade de ter contato com o movimento poético de Portugal, e também com as ilustrações a qual ela começou praticar. O casal teve três filhas, Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda. Mas seu casamento não foi fácil, passaram por dificuldades financeiras e preconceito das pessoas que os cercavam, durante esse período, por quatro anos, ela manteve uma página diária sobre educação no Diário de Notícias. Em mil novecentos e trinta e cinco seu primeiro marido cometeu suicídio, e após cinco anos de sua morte ela se casou novamente com Heitor Vinícius da Silveira Grilo.

Seu primeiro livro foi lançado em mil novecentos e dezenove, intitulado “Espectros”, trazia poemas com temas históricos, religiosos, mitológicos e lendários. Depois do primeiro lançamento, se aproximou de outros escritores, e continuou a desenvolver poemas para um novo livro. Além disso ela atuava na área da educação com enfoque na educação infantil, além de estar dentro das salas de aula, ela realizou palestras e conferências sobre literatura brasileira, educação, e outros temas em diversos países pelo mundo.

Faleceu no dia nove de novembro de mil novecentos e sessenta e quatro, devido ao câncer. Suas obras são mundialmente conhecidas pois foram traduzidas para diversas línguas. A autora ganhou diversos prêmios pela sua atuação como: Prêmio Machado de Assis, Sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura, Sócia honorária do Instituto Vasco da Gama (Goa), Doutora “honoris causa” pela Universidade de Delhi (Índia), Oficial da Ordem do Mérito (Chile).

Alguns poemas da autora tão consagrada no nossa país, podem trazer reflexões para datas importantes como o aniversário, esses não estão com a ideia de parabenizar, mas sim assuntos acerca de adquirir mais um ano de vida e também de das novas fases de sua vida. Vamos conferir alguns poemas da autora abaixo:

A Arte de Ser Feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim. (Cecília Meireles)

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada. (Cecília Meireles)

Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face? (Cecília Meireles)

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua…
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua…)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua…
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu…  (Cecília Meireles)

Motivo da rosa

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim. (Cecília Meireles)

Famosa Frase da Escritora Cecília Meireles

Famosa Frase da Escritora Cecília Meireles

Cântico XIII

Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo. (Cecília Meireles)

Reinvenção

A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas…
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo… – mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço…
Só – no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só – na treva,
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada. (Cecília Meireles)

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