Clarice Lispector é reconhecida como sendo uma das mais importantes escritoras que viveu no século XX, possuindo um estilo de escrita diferente, com um romance inovador e uma linguagem extremamente poética, colocando em evidência seus escritos sobre os modelos tradicionais, era pertencente ao Terceiro Tempo Modernista, o período da literatura em que escreveu. Além de escritora, a mulher de origem judia, foi também uma importante jornalista brasileira.
Biografia – Sua Infância E Adolescência
Clarice Lispector nasceu no dia 10 do mês de dezembro do ano de 1925, na cidade de Tchetchelnik, na Ucrânia. A família era composta por Pinkouss seu pai, e Mania sua mãe, ela ainda possuía mais duas irmãs, Tania e Leah. O registro de nascimento de Clarice possui o nome de Haia Lispector. A família estava vivendo em meio ao antissemitismo forte na Rússia, e então decidiram migrar para a América do Sul, para melhores condições de vida, e acabaram fixando em Maceió, no estado do Alagoas, no mês de março do ano de 1926.
Depois de três anos em Maceió, a família se mudou para Recife, no bairro da Boa Vista, lá ela iniciou os seus estudos no grupo escolar João Barbalho, onde se destacou dos demais, pois logo conseguia ler e escrever com muita facilidade. Com poucos anos de idade ela já escrevia pequenos contos. Ainda bem nova também estudou francês e inglês, além de conhecer o português ela também conhecia o iídiche, idioma natural dos pais.
A mãe de Clarice adoeceu em sua infância, a menina muito pequena, escrevia contos para tentar animá-la, quando Clarice tinha apenas 9 anos sua mãe faleceu. Apesar da perda triste, ela sempre focou nos estudos, conseguindo ingressar no melhor colégio público da sua cidade após o primário.
Aos seus doze anos a família toda se mudou para o Rio de Janeiro, o pai acreditava que lá seriam possíveis melhores oportunidades de vida, e de casamento para suas filhas. No Rio ela frequentou o Colégio Sílvio Leite, e morou no Bairro da Tijuca, lá ela se dedicava a ler e frequentar a biblioteca.
Faculdade, Casamento e Primeiros Livros
Mesmo Clarice não pertencendo a elite carioca, e sendo mulher num cenário bem machista, após terminar o segundo grau, no ano de 1941, ela decidiu ingressar na Faculdade Nacional de Direito, o que causou certa estranheza nos outros estudantes. Na mesma época ela consegue um emprego como redatora da Agência Nacional, e um tempo depois é empregada pelo jornal A Noite. Nessa época ela escrevia contos, que eram publicados em outras revistas, Clarice já não possuía grande interesse pelo direito, tendo na literatura sua paixão.
Quando Clarice estava com 19 anos ela infelizmente perdeu o pai, morto após uma cirurgia para retirar uma vesícula biliar. Clarice passa então a morar com a sua irmã. Na faculdade Clarice se tornou amiga, e depois namorada de Maury Gurgel Valente, um colega que havia entrado um ano antes dela na faculdade. Eles mantiveram um relacionamento até que ela conseguiu a sua nacionalidade, e então se casaram no ano de 1943, mudando juntos para a casa dos sogros de Clarice.
Em 1943 também foi o ano em que Clarice terminou o seu primeiro romance, o muito conhecido “Perto do Coração Selvagem”, livro que passa uma visão do mundo da sua adolescência. Ele foi publicado no ano depois, em 1944, e foi extremamente aclamado pela crítica, fazendo com que ela recebesse o Prêmio Graça Aranha.
Maury, marido de Clarice, se tornou um diplomata brasileiro, e com isso deveria fazer muitas viagens a trabalho, ela então passou a acompanha-lo. Foi no ano de 1944 que fizeram sua primeira viagem, para a cidade de Nápoles, na Itália, que se encontrava em meio a uma guerra. Na cidade Clarice se tornou voluntária de assistente de enfermagem, para ajudar no hospital da Força Expedicionária Brasileira.
Mesmo com a vida corrida, conciliando ser esposa do diplomata e voluntária, ela continuou escrevendo, e no ano de 1946 publicou seu segundo livro, intitulado “O Lustre”. O casal então se mudou para Berna, na Suíça, onde Clarice não conseguiu realmente se adaptar. Ela mantinha um contato com amigos no Brasil por meio de cartas.
Filhos E Volta Ao Brasil
Clarice continuou escrevendo, e no ano de 1948 ela publicou o terceiro livro, “A Cidade Sitiada”, foi também nesse ano em que nasceu o seu primeiro filho, Pedro Lispector Valente, no dia 10 do mês de agosto. A partir de então ela passa a escrever pequenos contos, que são publicados no ano de 1952 no livro “Alguns Contos”. Nessa época a família se muda para a Inglaterra, e em seis meses para os Estados Unidos, lá nasce seu segundo filho, Paulo Lispector Valente, no dia 10 do mês de fevereiro do ano de 1953.
Na adolescência Pedro e diagnosticado com esquizofrenia, o que traz momentos de dificuldades a Clarice, o fato das mudanças constantes da família causavam desconforto nos dois filhos, que não conseguiam se adaptar, isso, combinado a um ciúmes excessivo que seu marido sentia, levam Clarice a se divorciar dele no ano de 1959, e então retornar para morar no Rio de Janeiro, junto dos filhos.
No Rio ela consegue um emprego no Jornal Correio da Manhã, onde escrevia para a coluna “Correio Feminino”, depois ela vai para o Diário da Noite com a coluna “Só Para Mulheres”. Ainda nesse mesmo ano publica o livro “Laços de Família”, composto por contos, que recebeu o Prêmio Jabuti pela Câmara Brasileira do Livro. No ano de 1961 ela publicou “A Maça no Escuro”, e recebeu o prêmio de melhor livro.
Ela começa a trabalhar com literatura infantil, e publica no ano de 1967 o livro “O Mistério do Coelhinho Pensante”. Ainda nesse ano ela passa por um momento difícil da sua vida, quando ela dormiu com um cigarro acesso que acabou causando um incêndio, que a fez sofrer diversas queimaduras no corpo e na mão, ela teve que passar por várias cirurgias, e se manteve isolada durante sua recuperação, tempo que usou para escrever mais.
Após se recuperar começa a publicar crônicas no Jornal do Brasil, e entra para o Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro, local onde a considerava uma pessoa difícil de conviver.
Recebeu no ano de 1976 o primeiro prêmio do X Concurso Literário Nacional de Brasília, entregue pelo conjunto de sua obra. No ano de 1977 publica “Hora da Estrela”, que foi a sua última obra publicada em vida. O romance ganhou uma versão cinematográfica que conquistou diversos prêmios.
Clarice Lispector morreu no dia 9 do mês de dezembro do ano de 1977, no Rio de Janeiro, apenas um dia antes do seu aniversário. Ela foi sepultada no Cemitério Israelita do Caju.
Suas Obras
- Perto do Coração Selvagem, romance, publicado em 1944;
- O Lustre, romance, publicado em 1946;
- A Cidade Sitiada, romance, publicado em 1949;
- Alguns Contos, contos, publicado em 1952;
- Laços de Família, contos, publicado em 1960;
- A Maçã no Escuro, romance, publicado em 1961;
- A Paixão Segundo G.H., romance, publicado em 1961;
- A Legião Estrangeira, contos e crônicas, publicado em 1964;
- O Mistério do Coelho Pensante, literatura infantil, publicado em 1967;
- A Mulher Que Matou os Peixes, literatura infantil, publicado em 1969;
- Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres, romance, publicado em 1969;
- Felicidade de Clandestina, contos, publicado em 1971;
- Água Viva, romance, publicado em 1973;
- Imitação da Rosa, contos, publicado em 1973;
- A Via Crucis do Corpo, contos, publicado em 1974;
- A Vida Íntima de Laura, literatura infantil, publicado em 1974;
- A Hora da Estrela, romance, publicado em 1977;
- A Bela e a Fera, contos, publicado em 1978.
Sobre Ser Mãe
Sobre ser mãe, Clarice declarou uma vez:
“Quanto a meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser mãe. Os dois meninos estão aqui, ao meu lado. Eu me orgulho deles, eu me renovo neles, eu acompanho seus sofrimentos e angústias. Sei que um dia abrirão as asas para o vôo necessário, e eu ficarei sozinha. Quando eu ficar sozinha, estarei seguindo o destino de todas as mulheres.” (Clarice Lispector).
Ela não escreveu poemas sobre ser mãe, porém em alguns poemas, e outras frases é possível transparecer o amor dela e o sonho em ser mãe.
“Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.” (Clarice Lispector)
“Mas há a vida que é para ser intensamente vivida. Há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata.” (Clarice Lispector).
“O tempo tenta sequestrar meu sorriso, mas resisto como uma criança com medo da mãe ao ralar o joelho. Engulo o choro, para não doer mais.” (Clarice Lispector).
“À medida que os filhos crescem, a mãe deve diminuir de tamanho. Mas a tendência da gente é continuar a ser enorme.” (Clarice Lispector).
O Sonho
Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.
(Clarice Lispector)