Bibliografia da Autora
Clarice nasceu em 10 de dezembro de 1920. A autora não costumava comentar mas seu nome de batismo era Haia Lispector e seu país de origem Ucrânia, antiga União Soviética. Mudou-se para o Brasil com apenas dois anos por isso se considerava brasileira, aqui adotou o nome Clarice. Veio para o Brasil acompanhada dos pais Pedro Pinkouss e Marian Lispector e de suas irmãs mais velhas, Elisa e Tania. A família fugiu de uma guerra civil russa, em seu país de origem, que perseguia judeus, a origem da família de Clarice é judia. A família chegou no Brasil em 1922 e foram morar em Recife, junto da irmã da mãe da autora.
Estudou em escolas na capital de Pernambuco, onde aprendeu a ler e escrever, até os dez anos de idade, quando se mudou para o Rio de Janeiro, após a morte de sua mãe. No Rio de Janeiro terminou os estudos e cursou Faculdade de Direito. Clarice falava diversas línguas por isso após formada trabalhou como tradutora e também na redação de um jornal.
Casou-se com o diplomata Maury Gurgel Valente, em 1943. Morou em diversos países por conta da carreira do marido, por isso, também, era uma autora conhecida mundialmente. O casal teve dois filhos Pedro e Paulo, em 1959 Clarice se divorciou e viveu por um tempo com os filhos nos Estados Unidos, depois retornou ao Rio de Janeiro.
Pouco tempo depois de lançar seu livro de maior reconhecimento, A H ora da Estrela, em 1977 Clarice Lispector faleceu, vítima de câncer no útero, a autora morreu em 9 de dezembro, um dia antes de seu aniversário de 57 anos.
Lispector E Sua Obra
Clarice escreveu desde seus sete anos, quando aprendeu a escrever. Seu primeiro romance foi lançado em 1942, de título Perto do Coração Selvagem. Em 1946, já casada, mudou-se para Nápoles, Itália, onde escreveu e publicou O Lustre. Em 1949 publicou o terceiro romance, A Cidade Sitiada. Depois publicou um livro muito renomado na literatura brasileira Laços de Família, em 1960. No ano seguinte publicou o romance A Maça no Escuro. Em 1964 teve duas publicações um livro de contos, A Legião Estrangeira, e o romance A Paixão Segundo G. H., grande obra da autora.
No ano de 1969 também fez duas publicações uma aprendizagem ou o livro dos prazeres e A mulher que Matou os Peixes, seu primeiro livro infantil. Em 1973 lança seu segundo livro infantil A Vida Íntima de Laura. Neste mesmo ano a obra Água Viva é publicada, trazendo muito destaque a autora. Em 1974 foi publicado A Via-crucis. Em 75 lança Onde Estivestes de Noite e no ano seguinte um livro de entrevistas, De Corpo Inteiro.
Finalmente, em 1977, lança sua obra de maior destaque, o romance A Hora da Estrela. De acordo com a crítica esse livro foi diferente dos demais de Clarice. Os romances de Clarice Lispector apresentavam sempre uma personagem feminina, com conflitos pessoais, mergulhadas em seus sentimentos e sensações frente ao subjetivo. Já no romance de 77 a personagem central era uma mulher, porém brasileira, nordestina pobre e sofrida. Esse livro foi elogiado por apresentar uma crítica a sociedade brasileira daquele momento. Em 1985 a novela A Hora da Estrela virou filme, com direção da cineasta Suzana Amaral.
Clarisse Lispector foi uma autora brasileira de muito destaque, que ao contrario de muitas, foi reconhecida ainda em vida. Conta-se que ao conhecer a romancista Maria Bethânia, grande cantora da MPB, lançou aos seus pés, chamando-a de deusa. Ferreira Gullar, também autor brasileiro, disse que paralisou ao conhecer a colega autora, depois cultivaram amizade.
Lispector ainda é uma autora muito reconhecida na literatura brasileira e atualmente amplamente citada nas redes sociais.
O Amor Na Poesia De Clarice
Para Clarice o amor aparece como algo real, a autora parte em busca da realidade do amor. Em sua poesia o amor é fragmentado, assim como os autos e baixos de um verdadeiro romance. A autora tenta sempre buscar resposta para como duas pessoas podem se amar, se unirem, o amor é uma eterna aprendizagem. Usava também da estrutura da língua para dar diferentes interpretações para o sentimento amor, pois dizia que o amor é a busca de dizer o impossível.
A poesia a seguir pode ser lida da forma usual e depois ao contrario, apresentando novo sentido.
Tudo é o Olhar
Não te amo mais
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis
Tenho certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada
Não poderia dizer mais que
Alimento um grande amor
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais…
Clarice Lispector, Laços de Família, 1960.
Amor com Incompreensão
Amor com Incompreensão
Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado:
pensava que, somando as compreensões, eu amava.
Não sabia que, somando as incompreensões,
é que se ama verdadeiramente.
Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.
É porque eu não quis o amor solene,
sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda.
E é também porque sempre fui de brigar muito,
meu modo é brigando.
É porque sempre tento chegar pelo meu modo.
É porque ainda não sei ceder.
É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria
– e não o que é.
É porque ainda sou eu mesma,
e então o castigo é amar um mundo que não é ele.
É também porque me ofendo à toa.
É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade,
pois sou muito teimosa.
Clarice Lispector, Felicidade Clandestina, 1971.
Sem Título
“E o seu amor que agora era impossível,
que era seco como a febre de quem não transpira
era amor sem ópio nem morfina.
E ‘eu te amo’ era uma farpa que não se podia tirar com uma pinça.
Farpa incrustada na parte mais grossa da sola do pé.
Ah, e a falta de sede.
Calor com sede seria suportável.
Mas ah, a falta de sede.
Não havia senão faltas e ausências.
E nem ao menos a vontade.
Só farpas sem pontas salientes por onde serem pinçadas e extirpadas. “
Clarice Lispector, Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, 1969.
