Já faz alguns anos que “se ela eu dança eu danço” saiu das playlists dos DJs de funk, com exceção é claro, daqueles que tocam funks retrôs. O funk se tornou popular no Brasil já no final do século XX, especialmente no Rio de Janeiro. Entretanto, já na década de 1950, nos EUA um pianista conhecido como Horace Silver já citava o termo “funky style”. Sendo assim, torna-se interessante analisar cada etapa dessa história musical até os dias de hoje em que mais se destacam no território brasileiro os funks “proibidões”.
O tocador de piano, norte-americano, já citado, uniu na época os ritmos do jazz e a conhecida soul musica, com o objetivo de criar um som que movimentasse mais seus espectadores. Mas foi apenas em 1960 que novas bandas e alguns músicos, como Miles Davis, começaram a fazer o funk de fato, misturando o soul e o jazz com o R&B (rhythm and blues).
Outro nome importante e bastante conhecido nessa história é o de James Brown, que conseguiu espalhar o gênero pelo país americano. Vale destacar que todo esse crescimento do funk se deu em meio ao movimento negro que acontecia nos EUA, sendo modificado a cada ano com novas influências musicais. Foi nesse período também que ocorreu o nascer do hip-hop e a dança de rua mesclada, com berço principalmente em Nova York.
Por incrível que pareça o funk chegou ao Brasil a partir de influências musicais como Tim Maia, que hoje em dia muitos ouvem dentro do estilo musical MPB. Por volta de 1969, esse cantor, Tony Tornado e Carlos Dafé começaram a adotar um estilo americanizado com influência negra, refletido no cabelo black power, por exemplo, sendo tão representativos que criaram um movimento black no Rio de Janeiro, espalhando a cultura afrodescendente no país.
Você deve estar se perguntando e a Furacão 2000? Onde surge nessa história. Já em 1970, essa produtora surgiu ao lado da Soul Grand Prix sediando os verdadeiros e primeiros bailes funks do país. E foi nesse momento que o funk se enraizou no Brasil.
Em 1980 o baile funk já tinha um público garantido, sendo constituído por músicas com características do Miami Bass associadas com uma pitada do candomblé. Dessa maneira, um novo estilo musical modelado nos EUA começava a ser reproduzido e estruturado no Brasil. Eram músicas com batidas elétricas, rápidas e letras com aspectos mais sensuais. Nesse momento, os personagens que tocavam nos bailes ficaram conhecidos como DJs e assim surgia o funk carioca, com músicas originais cantadas em português.
Os novos funks vieram com letras que abordavam a violência e a dificuldade da vida nas favelas, afinal seus compositores geralmente estavam alocados em residências nessas regiões mais pobres e obtinham inspiração dessa realidade popular. Os funkeiros simplesmente começaram a cantar a vida complicada que tinham, ilustrando para o povo brasileiro como era o dia a dia nas comunidades do Rio de Janeiro.
Em seguida surgiram nomes mais conhecidos pelos habitantes do ano 2000, como o Bonde do Tigrão que explodiu com a música “Cerol na Mão”, o Mc Marcinho, Claudinho e Buchecha, etc.
Após o sucesso carioca, o funk ostentação começou a surgir principalmente em São Paulo, em 2010. Apareceu um novo modelo de funk com base na voz do MC Guimê, MC Livinho, MC Pocahontas e outros nomes. Além desses ascenderam também as musas do funk com uma pegada Pop, nas vozes de Anitta e Ludmilla.
Como já foi dito, a realidade das favelas cariocas gira, desde alguns anos e ainda nos dias atuais, em torno de violência e de certa promiscuidade sob o olhar da sociedade. Sendo assim, algumas letras de funk pesam com letras sinceras e sem cortinas para falar de sexo, drogas e violência. Esses são conhecidos como os funks proibidões e abaixo serão citadas algumas letras em suas versões originais e suas respectivas versões que tocam nas rádios quando a música faz muito sucesso:
Mc Kekel – “Meiota”
Versão original: “Quer andar de meiota, senta na minha piroca”
Versão liberada: “Quer andar de meiota, senta novinha e pilota”
Mc G15 – “Deu onda”
Versão original: “Fazer o que, meu pau te ama”
Versão liberada: “Fazer o que, o pai te ama”
Outras músicas com letras que demonstram apologia às facções criminosas, também são conhecidas como proibidões e nem mesmo apresentam uma versão mais light, elas simplesmente tratam da verdadeira face do crime carioca. Uma bastante conhecida é a música “Faixa de Gaza” com autoria do Mc Orelha. Veja alguns trechos interessantes da letra e tente ilustrar as imagens que o autor tenta representar.
“Na faixa de gaza, só homem bomba, na guerra é tudo ou nada.”
“Nós desce pra pista pra fazer o assalto, mais tá fechadão no doze”
“Mulher, ouro e poder, lutando que se conquista, nós não precisa de crédito, nós paga tudo a vista”
“Quem tá de fora até pensa que é mole viver do crime, nós planta humildade, pra colher poder, a recompensa vem logo após, não somos fora da lei, porque a lei quem faz é nós”
“Quantos amigos eu vi, ir morar com Deus no céu, sem tempo de se despedir, mas fazendo o seu papel”
“Por isso eu vou mandar, por isso eu vou mandar assim, Comando Vermelho, RL até o fim, é vermelhão desde pequenininho, só menor bolado nas favela do baixinho”
Outro hit muito conhecido é o “Morro do Dende” do cantor Menor do Chapa, consagrado em filmes que apresentam bailes funks, muitos lembram dessa música quando pensam no filme Tropa de Elite 1, em que logo no início aparece esse sucesso popular. Veja a seguir a letra desse funk “proibido”.
“Morro do Dendê é ruim de invadir, nós com os alemão vamô se divertir, porque no Dendê eu vou dizer como é que é, aqui não tem mole, nem pra DRE, pra subir aqui no morro até o BOPE treme, não tem mole pro exército civil nem pra PM.”
“Amigos que eu não esqueço, nem deixo pra depois, lá vem dois irmãozinho, de 762, dando tiro pro alto, só pra fazer teste”
Alguns funks também abordam o sexo sem outras versões suaves, pois seus compositores entendem que não há necessidade de se enfeitar aquilo que encaram todos os dias com naturalidade. E como juntar sexo e funk e não falar do Mc Catra, o pai da putaria. Dê uma olhada nos trechos de algumas de suas músicas:
“Ela quer roupa da Armani, bolsa da Louis Vuitton, ela dá pra nois que nois é patrão”
“Ela é boa na moto, ela é boa na cama, um lancinho e já era, não se apega e nem diga que a ama”
“Passa nela, passa nela, passa o pau na cara dela”
“Soca nele, soca nele, joga só na cara dele”
E não pense que nesse meio as mulheres ficaram para trás. Sendo representadas pela cantora Valesca Popozuda não possui travas na língua ao criar suas canções, e fortifica o feminismo em meio ao funk proibidão que cresceu entre Mcs do gênero masculino. Observe algumas de suas letras:
“Então mama, pega no meu grelo e mama, me chama de piranha na cama, minha xota quer gozar, quero dar, quero te dar”
“Pode ser funkeiro, milionário ou jogador, o que você faz da sua vida não interessa, vou mandar tu se foder porque sou dessas”
“Eu posso falar? Quero te dar”