Com certeza você já ouviu falar e até mesmo já leu algo da Clarice Lispector: uma das maiores escritoras do modernismo brasileiro.
Ela integrou um grupo de escritores que eram chamados de “Geração de 45”, e é comumente citada como um dos nomes mais importantes da literatura do século XX. A autora recebeu diversos prêmios ao longo de sua carreira, como o Prêmio Graça Aranha. Seu sucesso se perdurou até os dias atuais, sendo uma das autoras mais citadas nas mídias sociais brasileiras.
Vamos conhecer um pouco de sua história:
Biografia Clarice Lispector: Primeiros Anos
Clarice na realidade se chamava Chaya Pinkhasovna Lispector. Ela nasceu na Ucrânia, no dia 10 do mês de dezembro do ano de 1920, em uma família judaica, que se viu obrigada a emigrar para o Brasil no ano de 1922, devido à perseguição que os judeus estavam sofrendo em toda a Europa.
A família chegou ao Brasil no mês de março de 1922, e se estabeleceu em Maceió. Como o nome de todos da família era de difícil pronunciamento, eles modificaram seus nomes para se “encaixar” melhor no Brasil, então Chaya passou a se chamar Clarice. No ano de 1925 a família se muda para Recife.
Clarice era uma criança promissora, ela sabia falar a língua nativa de seus pais, o iídiche, além de estudar francês e inglês. Rapidamente ela aprendeu a ler e escrever. Ainda muito nova escrevia contos e lia para a mãe doente, para tentar a alegrar. No ano de 1929 sua mãe vem a falecer.
Estudou o ensino secundário no Ginásio Pernambucano, considerado o melhor colégio da sua cidade. No ano de 1937 mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, e passou a estudar no Colégio Silvo Leite. Após se formar ingressou na faculdade de Direito.
Carreira Como Escritora E Vida Adulta
Quando tinha 19 anos de idade publicou seu primeiro conto, intitulado “Triunfo”. Durante a faculdade de direito começou a trabalhar como jornalista, e percebeu que era algo que lhe interessava muito.
Na faculdade ela conheceu Maury Gurgel Valente, colega de classe com quem ela iniciou um romance, os dois se casaram logo após ambos concluírem a faculdade.
No ano de 1943 publica o seu primeiro romance, a obra “Perto do Coração Selvagem”, com o livro ela conquistou o Prêmio Graça Aranha, com apenas 23 anos de idade.
Logo ela inicia uma parte de sua vida que perduraria por longos anos. Seu marido era diplomata do Ministério de Relações Exteriores, por isso, tinha que mudar de país de tempos em tempos. Nessa fase em que morou no exterior ela escreveu cartas onde declarava se sentir muito solitária. Inicialmente morou na Itália, onde seguiu escrevendo suas obras e também fazendo trabalhos voluntários. Além disso, viveu também na Inglaterra, Estados Unidos e Suíça. Teve dois filhos, e então no ano de 1959 decidiu se separar do marido e retornar ao Brasil com eles, para morar no Rio de Janeiro.
De volta ao Brasil passou a trabalhar no jornal “Correio da Manhã”, e depois trabalhou também no “Diário da Noite”. No ano de 1960 lançou o livro “Laços de Família”, que foi premiado pela Câmara Brasileira do Livro com o Prêmio Jabuti. No ano de 1961 publicou “A Maçã no Escuro”, que recebeu o prêmio de melhor livro do ano.
No ano de 1966 ocorre um acidente que acarreta em um incêndio em sua casa, devido a ela adormecer com um cigarro aceso, o que deixa Clarice com intensas queimaduras no corpo. Após esse ocorrido, ela decidiu se isolar em sua casa e dedicar o seu tempo à escrita de suas obras.
Clarice passou a integrar o Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro em 1967, mesmo ano que publicou “O Mistério do Coelho Pensante”. No ano de 1969 recebe o prêmio do X Concurso Literário Nacional de Brasília.
Sua última obra publicada em vida foi o romance “A Hora da Estrela”, no ano de 1977. O sucesso da obra foi grande, ganhando inclusive uma adaptação em filme, sendo esse premiado no festival de cinema de Brasília no ano de 1985 e com o Urso de Prata em Berlim no ano seguinte.
A autora morreu no dia 9 de dezembro do ano de 1977, um dia antes de completar 78 anos de idade.
Características De Suas Obras
Clarice Lispector escrevia de tudo: romances, crônicas, contos, poemas, colunas em jornais e literatura infantil. Com certeza possui variedade em seu currículo, mas a maioria de suas obras tem características em comum.
A principal dessas características era explorar a mente de seus personagens, para tentar entender como eles reagiriam nas situações do seu dia a dia. É através da procura em entender a mente de seus personagens que podemos entender como ela construía suas obras. Esse tipo de escrita é chamado de escrita “intimista”.
No geral, a forma como o enredo se sucede tem importância secundária, para a autora as ações é que são prioridades. Algumas histórias sequer possuem começo meio e fim. Focando mais intensamente no monólogo interior dos personagens, em seu psicológico e em como eles irão agir.
É comum que suas histórias mostrem personagens passando por um momento de “epifania”. Esse momento é caracterizado por uma grande mudança na vida do personagens, onde ele descobre algo que faz grande diferença em sua vida e que o desperta para novas situações importantes, que determinarão o seu futuro e irão mudar ela para sempre.
Em uma entrevista a autora declarou: “Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo.” Isso mostra como a autora se sente ao criar suas obras, sendo uma maneira dela mostrar seus pensamentos para o mundo. Em algumas de suas histórias a autora também envolve os personagens em traços do seu cotidiano real, quase que criando histórias que se assemelham de alguma forma a sua vida.
Além dos romances, os poemas de Clarice têm por característica mostrar intenso sentimento, é possível notar esse sentimento até mesmo em seus poemas mais curtos, que mesmo com poucas palavras são uma leitura intensa. Ao ler um de seus poemas é possível quase sentir o que ela sentia ao escrever. Vamos conferir alguns poemas de Clarice Lispector abaixo:
Poemas Curtos De Clarice Lispector:
Pessoas felizes – Clarice Lispector
As pessoas mais felizes não
têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das
oportunidades que aparecem
em seus caminhos.
A felicidade aparece para
aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam
e tentam sempre.
Minha alma tem o peso da luz – Clarice Lispector
Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita,
prestes quem sabe a ser dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.
Mas há a vida – Clarice Lispector
Mas há a vida
Que é para ser
Intensamente vivida, há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Se nenhum medo.
Não mata.
Mão – Clarice Lispector
Agora preciso de tua mão,
não para que eu não tenha medo,
mas para que tu não tenhas medo.
Sei que acreditar em tudo isso será,
no começo, a tua grande solidão.
Mas chegará o instante em que me darás a mão,
não mais por solidão, mas como eu agora:
Por amor.
Solidão – Clarice Lispector
Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Saudade – Clarice Lispector
Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda
que a presença é pouco:
quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro
para uma unificação inteira
é um dos sentimentos mais urgentes
que se tem na vida.
Em todos os poemas citados acima podemos perceber o sentimento da autora, no primeiro, intitulado “Pessoas Felizes” ela fala sobre como a felicidade é encontrada por aqueles que realmente buscam a mesma, pessoas normais, que nem sempre tem as melhores coisas, mas que conseguem alcançar a felicidade da mesma maneira.
Em “Minha alma tem o peso da luz” fala sobre a solidão de sua alma, e das experiências e sentimentos vividas por ela. Em “Mas há vida”, a autora fala sobre a ideia de viver a vida intensamente, sem medos. Em “Mão” ela fala sobre o amor e sobre a importância desse sentimento. Em “Solidão” a autora fala sobre autoconhecimento e independência. Em “Saudade” a autora fala sobre esse sentimento tão comum e tão nosso, e como é um sentimento avassalador em nossas vidas.