Poesia “Aniversário” de Fernando Pessoa

Esse é uma poema muito antigo e famoso. Conhecido por ser um dos poemas mais tristes de um dos heterônimos de Fernando Pessoa, O Álvares de Campos.

História De Fernando Pessoa

Poeta que deixou uma imensa lista de poesias que encantam e fazem sucesso até hoje, quase um século depois da suas publicações.

Natural de Portugal, mais precisamente da capital Lisboa, Fernando Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888. Morou muitos anos na África do sul, já que seu padrasto era comandante militar, o Sr. João Miguel Rosa, que ao ser nomeado cônsul em Durban teve que se mudar levando sua esposa e seu enteado.

Lá estudou e aprendeu a língua inglesa, a qual usou para escrever seus primeiros poemas em 1901. No ano seguinte ele e sua família voltaram para Lisboa, porém ele acabou voltando para África em 1903 para fazer faculdade. Ele estudou na Universidade de Capetown (Cabo da Boa Esperança. Logo depois começou filosofia na Faculdade de Letras em Lisboa, porém no segundo ano parou.

Como já tinha percebido o gosto pela literatura, começou trabalhar em 1912 como crítico literário em uma revista que se chamava “Águia”. Depois de três anos trabalhando nessa revista resolveu juntamente com alguns amigos criar a sua própria revista que viria se chamar “Orpheu”. Os principais jovens que estavam com ele quando fundaram a revista era Mário de Sá-Carneiro, Raul Leal, Luís de Montalvor, Almada-Negreiros e o brasileiro Ronald de Carvalho.

A primeira publicação da revista mostrava os princípios de liberdade de expressão e uma renovação futurista, em um momento difícil para Portugal, que passava por grandes problemas da primeira república.

Fernando utilizou a revista para fazer diversas críticas sobre o conservadorismo em que vivia .  Alguns poemas como “Ode Triunfal” e “Opiário” foram muito criticado, levando a população chamar eles de louco.  Por isso a revista Orpheu acabou não durando muito tempo.

Até 1908 o poeta só compunha em inglês suas poesias e algumas prosas. Só após os 20 anos que passou escrever em português.

Em 1927, muito da obra dele foi publicada na revista literária “Presença”, que também tinha princípios de liberdade e emoção estética,  reais características do Modernismo.  A obra “mensagem” , em 1934, levou o segundo lugar do prêmio de poesia do Secretariado Nacional de Informações . Esse foi o único livro publicado em vida pelo autor e era uma réplica de Os lusíadas, porém utilizando suas características para escrever, como a nacionalidade mística.

Usava em seus poemas os heterônimos, esses davam a possibilidade de Fernando criar vários personagens sobre as várias emoções que viviam nele. Cada um desses heterônimos tinha uma história bem criada, um mundo próprio e  suas características. Todos eles marcando de alguma forma os sentimentos do poeta.

Com certeza, Fernando pessoa deixou um imenso legado, sendo um dos poetas de maior renome do Modernismo Português. Sempre sendo saudosista em temas, com reflexões e demonstração dos sentimentos sentidos.

Em 1935, morreu de cirrose hepática, já em uma cama de hospital, onde escreveu suas últimas palavras em inglês: ‘I know not what tomorrow will bring’ (Não sei o que o amanhã trará).

Alguns Heterônimos De Fernando Pessoa:

  • Alberto Caeiro trás em seus poemas a natureza ( já que morou quase sua vida toda no campo), mostrando esse contato simples que ele tem com ela. Tudo para ele é objetivo, sem mediação do pensamento, sendo “tudo como tem que ser”. Um dos poemas marcantes é o “O Guardador de Rebanhos”, que mostra esse contato com a natureza, sentindo ela de forma simples.
  • Ricardo Reis já teve total escolaridade, fez medicina e morava em Portugal. Contra a república montada em Portugal, mudou-se para o Brasil, onde continuou sendo um monarquista que adorava a cultura clássica, por isso todas suas obras tem princípios do tipo.
  • Álvaro de Campos já possuía características de acordo com seu século. Sempre inconformado com as situações que presenciava, Álvaro foi um revolucionário que escrevia seus manifestos através de poesia. As mais famosas são: “Ode Triunfal”, “Ode Marítima”,“Tabacaria” e “Aniversário”.
  • Outro heterônimos que Fernando considera um “semi-heterônimo” é o Bernando Soares, que escreveu o livro Desassossego.

Poesia Aniversário

“No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

Eu era feliz e ninguém estava morto.

Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,

E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,

De ser inteligente para entre a família,

E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.

Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.

Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

 

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,

O que fui de coração e parentesco.

O que fui de serões de meia-província,

O que fui de amarem-me e eu ser menino,

O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…

A que distância!…

(Nem o acho…)

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,

Pondo grelado nas paredes…

O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),

O que eu sou hoje é terem vendido a casa,

É terem morrido todos,

É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…

 

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…

Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!

Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,

Por uma viagem metafísica e carnal,

Com uma dualidade de eu para mim…

Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!”

Análise Do Poema

O texto demonstra uma certa confissão despreocupada por parte de Álvaro de Campos, isso é mostrado pela forma de escrita bem simples, quase sendo uma prosa. O poema trata de um sentimento saudosista, onde Álvaro conta sobre o dia do seu aniversário quando ele ainda era criança, mostrando que sente além de saudades, angústia. Mostrando a infância como a inocência, sem problemas, sem perceber nada de importante ao redor. Marcando a perda de alguém, fazendo com que as coisas fiquem sem sentido.

“As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa”, essa frase utilizada  no poema, mostra que para ele aniversários são festas que reuniam a família, e essas eram as  pessoas que demonstravam afeto por ele, mais ainda no dia do seu aniversário. Ele mostra como sente falta disso e que adulto não tem mais nada disso, deixando subentendido que nessa época era mais feliz que agora.

“O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!” foi repetida algumas vezes, mostrando a importância da data para o eu- poético. Mostra várias que está conformado com a situação atual, apesar de não gostar dela como nesse trecho “serei velho quando o for. Nada mais.”

“Eu era feliz e ninguém estava morto” e  “Hoje já não faço anos. Duro.” São frases que mostram a amargura com que ele vive, sempre mantendo essa relação passado e presente.

Um olhar completo sobre o poema traz à tona características que são usadas quando a pessoa está prestes a morrer, fazendo uma reflexão sobre tudo que fez nada vida e principalmente relembrando  de momentos que eram felizes que já não acontecem mais.

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Categoria(s) do artigo:
Frases

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