Poema Aniversário Vinicius De Moraes

Vinicius de Moraes é um poeta, jornalista, cantor, dramaturgo, diplomata e compositor brasileiro, apesar de ter se aventurado em tantas formas de arte, ele considera que a sua principal vocação é a poesia. Ele escreveu sobre diversos temas ao longo de sua vida, falando de amor, de saudade, e nos poemas abaixo mostrados, mais especificamente sobre aniversário.

A comemoração do aniversário é algo bem especial, e diversos autores já escreveram algo sobre isso. Vinicius de Moraes é um desses, ele escreveu o Soneto de Aniversário, que pode ser visto abaixo:

“Soneto de Aniversário

Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece…
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.”

Rio, 1942

Vinicius de Moraes também escreveu outro texto sobre aniversário, chamado de Poema de Aniversário.

“Poema de aniversário

Porque fizeste anos, Bem-Amada, e a asa do tempo roçou teus cabelos negros, e teus grandes olhos calmos miraram por um momento o inescrutável Norte…
Eu quisera dar-te, ademais dos beijos e das rosas, tudo o que nunca foi dado por um homem à sua Amada, eu que tão pouco te posso ofertar. Quisera dar-te, por exemplo, o instante em que nasci, marcado pela fatalidade de tua vinda. Verias, então, em mim, na transparência do meu peito, a sombra de tua forma anterior a ti mesma.
Quisera dar-te também o mar onde nadei menino, o tranqüilo mar de ilha em que perdia e em que mergulhava, e de onde trazia a forma elementar de tudo o que existe no espaço acima – estrelas mortas, meteoritos submersos, o plancto das galáxias, a placenta do Infinito.
E mais, quisera dar-te as minhas loucas carreiras à toa, por certo em premonitória busca de teus braços, e a vontade de grimpar tudo de alto, e transpor tudo de proibido, e os elásticos saltos dançarinos para alcançar folhas, aves, estrelas – e a ti mesma, luminosa Lucina, e derramar claridade em mim menino.
Ah, pudesse eu dar-te o meu primeiro medo e a minha primeira coragem; o meu primeiro medo à treva e a minha primeira coragem de enfrentá-la, e o primeiro arrepio sentido ao ser tocado de leve pela mão invisível da Morte.
E o que não daria eu para ofertar-te o instante em que, jazente e sozinho no mundo, enquanto soava em prece o cantochão da noite, vi tua forma emergir do meu flanco, e se esforçar, imensa ondina arquejante, para se desprender de mim; e eu te pari gritando, em meio a temporais desencadeados, roto e imundo do pó da terra.
Gostaria de dar-te, Namorada, aquela madrugada em que, pela primeira vez, as brancas moléculas do papel diante de mim dilataram-se ante o mistério da poesia subitamente incorporada; e dá-Ia com tudo o que nela havia de silencioso e inefável – o pasmo das estrelas, o mudo assombro das casas, o murmúrio místico das árvores a se tocarem sob a Lua.
E também o instante anterior à tua vinda, quando, esperando-te chegar, relembrei-te adolescente naquela mesma cidade em que te reencontrava anos depois; e a certeza que tive, ao te olhar, da fatalidade insigne do nosso encontro, e de que eu estava, de um só golpe, perdido e salvo.
Quisera dar-te, sobretudo, Amada minha, o instante da minha morte; e que ele fosse também o instante da tua morte, de modo que nós, por tanto tempo em vida separados, vivêssemos em nosso decesso uma só eternidade; e que nossos corpos fossem embalsamados e sepultados juntos e acima da terra; e que todos aqueles que ainda se vão amar pudessem ir mirar-nos em nosso último leito; e que sobre nossa lápide comum jazesse a estátua de um homem parindo uma mulher do seu flanco; e que nela houvesse apenas, como epitáfio, estes versos finais de uma cançâo que te dediquei:

… dorme, que assim
dormirás um dia
na minha poesia
de um sono sem fim…”

Rio, 1962.

Ao ler tais textos é possível notar um sentimento nas palavras de Vinicius de Moraes, que além desses dois poemas possui diversos outras obras. Mas você conhece a história de uma das maiores personalidades brasileira? Se a sua resposta for não, acompanhe o texto abaixo e descubra quais foram as inspirações e a trajetória que Vinicius traçou até escrever tais poemas.

História De Vinicius De Moraes

Nascido tendo como nome completo o nome Marcus Vinicius de Moraes, no dia dezenove de outubro do ano de mil novecentos e treze, na cidade do Rio de Janeiro, Vinicius era filho de um amador da música e poesia, sendo que seu trabalho era funcionário da prefeitura, o pai Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, sua mãe era pianista amadora, a senhora Lydia Cruz de Moraes. A família era grande, com quatro filhos.

Desde muito pequeno, Vinícius demonstrava interesse em escrever, principalmente poesias. Ele fez a Escola Primária Afrânio Peixoto, sendo lá que começou a demonstrar mais piamente seus dons. Depois, foi para o Colégio Santo Inácio, um colégio de padres jesuítas. Lá ele conseguiu desenvolver ainda mais seu lado artístico, pois cantava no coral e também ajudava a produzir peças de teatro, isso por volta de seus onze anos. Nesse colégio também conheceu seus grandes amigos, os irmãos Tapajós, Paulo e Haroldo, e foi com eles que Vinicius começou a compor e também se apresentar entre amigos.

Quando chegada a época da faculdade, Vinicius decidiu entrar para a faculdade de Direito, lá ele conheceu outro grande amigo, Otávio de Faria, que era escritor, e incentivou Vinicius a dedicar-se mais a literatura. Vinicius se formou em Ciências Jurídicas no ano de mil novecentos e trinta e três. Também por meio de Otávio é que conheceu a Ação Integralista Brasileira, um movimento brasileiro.

Vinicius De Moraes – Carreira Como Diplomata

Sua primeira publicação foi “Soneto de Katherine Mansfield”, na revista “Anauê!” nº 15. Após formado, conseguiu um emprego de censor cinematográfico, no ano de mil novecentos e trinta e seis. Em mil novecentos e trinta e oito conseguiu uma bolsa para ir estudar na Universidade de Oxford, sobre língua e literatura inglesa. Voltou ao Brasil em mil novecentos e quarenta e um, se tornando crítico de cinema, e colaborador da revista “Clima”.

Katherine Mansfield

Katherine Mansfield

Em mil novecentos e quarenta e seis se tornou diplomata brasileiro, após passar no concurso no Ministério das Relações Exteriores, se tornando o vice-cônsul em Los Angeles. Em mil novecentos e cinquenta retornou ao Brasil devido a morte de seu pai, depois foi diplomata em Paris e Roma.

Afastou-se da carreira como diplomata em mil novecentos e sessenta e oito, isso devido ao regime militar, que segundo o que foi emitido, ele possuía um comportamento boêmio. Em mil novecentos e noventa e oito, após a sua morte, ele foi anistiado, e em dois mil e dez recebeu o título de “ministro de primeira classe”, algo como embaixador, sendo o cargo mais alto da carreira de diplomática.

Vinicius De Moraes – Carreira Musical

Desde pequeno desenvolvia seus interesses pela música, ele começou a se tornar prestigiado com a peça chamada “Orfeu da Conceição”, no ano de mil novecentos e cinquenta e seis. Nessa época ele já era diplomata e também já escrevia. E então começou a se relacionar com Tom Jobim, o que fez com que sua carreira musical também deslanchasse, com ele, compôs várias músicas gravadas por grandes artistas. Compositor ferrenho, pode-se dizer que seu ápice foi na década de sessenta, quando mais de sessenta músicas suas foram gravadas por artistas da Música Popular Brasileira. Já na década seguinte, em mil novecentos e setenta, ele lançou alguns álbuns em parceria com Toquinho.

Toquinho e Vinicius de Moraes

Toquinho e Vinicius de Moraes

Ele esteve num dos maiores movimentos da música brasileira, por volta de mil novecentos e cinquenta e oito, o estou da Bossa Nova. A música “Chega de Saudade”, composição de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, foi uma das canções fundamentais desse movimento, presente no álbum de Elizeth Cardoso. A canção possui um toque diferente, um batida que marcou esse novo movimento. Outras músicas de Vinicius são muito conhecidas dessa época, como “Loura ou Morena”, “Se todos fossem iguais a você”, “Serenata do Adeus”, dentre outras.

Ele cantou pela primeira vez em mil novecentos e cinquenta e oito, em parceria com Tom Jobim. Também se aproximou de Carlos Lyra, com quem compôs novas músicas. Participou de peças, e a Banda do Corpo de Bombeiros gravou a música “Serenata de Adeus” com seus versos. Esteve na trilha sonora do filme “Sol sobre a Lama”. Em mil novecentos e setenta e dois esteve com João Gilberto, Tom Jobim e Os Cariocas. No mesmo período gravou com Odete Lara o álbum “Vinicius e Odete Lara”. E em mil novecentos e sessenta e três foi lançado “Elizeth interpreta Vinicius”.

Em mil novecentos e sessenta e quatro esteve com Dorival Caymmi, Conjunto de Oscar Castro Neves e o Quarteto em Cy, para um grande concerto. Em mil novecentos e sessenta e cinco duas de suas canções concorreram ao I Festival Nacional de Música Popular Brasileira, sendo que ficaram com o primeiro e segundo lugar respectivamente “Arrastão” e “Valsa do Amor que Não Vem”. Em mil novecentos e sessenta e cinco foi realizado um show em sua homenagem, chamado de “Vinicius: Poesia e Canção”, onde, após a apresentação de “Se todos fossem iguais a você”, a plateia aplaudiu por dez minutos seguidos.

Vinicius esteve em mil novecentos e sessenta e seis no álbum “Os Afro-Sambas”, nesse mesmo ano participou do concerto “Pois É”, junto de Gilberto Gil e Maria Bethânia. Foi convidado a participar como jurado no Festival de Cannes. Em mil novecentos e sessenta e sete lançou “Garota de Ipanema”, sendo a segunda canção mais conhecida do Brasil, traduzida para algumas outras línguas, e uma eterna lembrança do país.

Por volta da década de setenta começou a compor com Toquinho, algumas das composições são “Testamento”, “Tarde em Itapoã” e “Como dizia o poeta”. Em mil novecentos e setenta começou uma apresentação na casa carioca chamada de “Canecão”, que ficou quase um ano em cartaz. Esteve também no LP “Vinicius En La Fusa”, gravado junto de toquinho e Maria Creuza. Junto de Toquinho fez diversas apresentações no país e também internacionais. Juntos gravaram a trilha sonora da novela “Nossa Filha Gabriela” e também no show “O Poeta, a Moça e o Violão”, junto da grande Clara Nunes.

No ano de mil novecentos e setenta e quatro lançaram “Toquinho, Vinicius e Amigos”, com participação de Cyro Monteiro, Maria Bethânia, Maria Creuza, Chico Buarque, e outros. Em mil novecentos e setenta e cinco veio o álbum “O poeta e o Violão”, gravado em Milão. Em mil novecentos e setenta e sete foi lançado o álbum “10 anos de Toquinho e Vinicius”. Em mil novecentos e oitenta foi lançado “Arca de Noé”.

Vinicius De Moraes – Carreira Literária

Vinicius de Moraes é um dos maiores nomes da poesia brasileira, e é pela sua carreira literária que ele é mais amplamente lembrado. Além dos poemas citados acima, ele produziu diversos outros. Começou como letrista, mas logo conheceu poetas que despertaram nele a vontade de escrever também, como Oswald de Andrade, Mário de Andrade, e também Manuel Bandeira.

Oswald de Andrade

Oswald de Andrade

Em mil novecentos e trinta e cinco recebeu o Prêmio Felipe D’Oliveira, pelo livro lançado chamado de “Forma e Exegese”, em mil novecentos e trinta e cinco. Em mil novecentos e trinta e seis lançou “Ariana, a mulher”. Em mil novecentos e quarenta as suas obras passaram a ser mais excitantes e sensuais, e muitas vezes eram criticas a diversas aspectos sociais. Nessa época lançou “Cinco Elegias” (em mil novecentos e quarenta e três), “Poemas, Sonetos e Baladas” (em mil novecentos e quarenta e seis), “Pátria Minha” (em mil novecentos e quarenta e nove), dentre outras publicações

Em mil novecentos e cinquenta e quatro lançou a coletânea de poemas “Antologia Poética”, e nesse mesmo ano lançou “Orfeu da Conceição”, a peça teatral, foi a partir dela que conheceu Tom Jobim.  Em mil novecentos e sessenta e dois publicou três livros. Em mil novecentos e setenta e sete publicou “O Breve Momento”.

Vinicius De Moraes – Vida Pessoal E Morte

Vinicius De Moraes - Morte

Vinicius De Moraes – Morte

Vinicius era chamado de Poetinha por seus amigos, era conhecido pelo seu gosto por uísque, ser fumante e um boêmio, além de um galanteador. Ele se casou por nove vezes ao longo da sua fica, sendo que suas esposas foram: Beatriz Azevedo de Melo, Regina Pederneiras, Lila Bôscoli, Maria Lúcia Proença, Nelita de Abreu, Cristina Gurjão, Gesse Gessy, Marta Rodrigues Santamaria, e Gilda de Queirós Mattoso.

No dia nove de julho de mil novecentos e oitenta passou mal enquanto tomava banho na banheira de sua casa. Tentaram socorre-lo, porém sem sucesso, vindo ele a falecer nesse dia.

O prestigio por ele não acabou com sua morte, ainda após a morte foram lançados alguns álbuns e livros, em sua homenagem. Em dois mil, após vinte anos de sua morte, houve um grande show em sua homenagem. E ao longo dos anos sempre são lançados projetos em sua homenagem. A versão em inglês da música “Garota de Ipanema” foi escolhida como uma das cinquenta grandes obras musicais da humanidade.

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